sexta-feira, 9 de novembro de 2007

O PÁSSARO

Mario Waddington

Como um pássaro que se liberta, mas ainda inseguro pelas difíceis lembranças do passado, traz em sua memória as feridas de tristes momentos. Voa se sentindo preso, doente e de asas pesadas, vislumbrando o horizonte ainda distante, que acreditava inatingível.
O medo de ser recapturado e sentir os já conhecidos maus tratos das personalidades conflitantes, o faz ficar acuado por não sentir forças suficientes para pousar em local seguro. O que fazer? Pergunta a esperançosa ave, que procura o acolhimento da paz para o trato de suas antigas feridas. Entende que precisa se fortalecer, mas precisa da força da água, do fogo, da terra e do ar, que se encontram escassos em seu mundo debilitado e hostil.
Chamam-na de egoísta, pois não vêem suas feridas ainda abertas, já que desconhecem os momentos pelos quais passou em solidão, tentando ser feliz. Qual o momento de pousar, se o medo ainda reveste sua plumagem, como couraça do mais puro barro? O tempo certamente dirá. O Sol envolve-a com seu calor e a Lua lhe pede calma, trazendo-lhe o sono reparador.
Percebe que o pior já passou, mas arestas para uma obra de fino acabamento precisam ser torneadas, para ser admirada não na sua superfície, mas na delicadeza da alma do seu artista. Tem a seu favor a esperança, pois descobre que não está só, e que um dia será feliz em seu reino repleto de cores, aromas e amores. Pousará na árvore que realmente lhe abrigará, respeitando a vida que sempre sonhou ter.